quinta-feira, 17 de março de 2011

Dia de Guerra

Eu tremia demais.
Incrível eu me lembrar disso, mas eu tremia muito. Não sei se era medo, ansiedade por ver o inimigo chegando, ou até mesmo pavor...só sei que minhas mãos estavam incontroláveis naquela manhã chuvosa.
Eu suava muito também. É realmente estranho pensar que, apesar de tantas coisas acontecerem naquele dia, eu me lembre perfeitamente de pequenas coisas que, no contexto geral, não tenham a mínima importância.

Mas num dia de guerra, a mente se abre e a memória grava tudo.

Corpos por todos os lados, alguns mutilados, outros não. Sangue na água, maculando uma terra que sempre viu somente a paz. E eu estava ali, trazendo o desespero e a morte, com um dedo no gatilho e granadas nas mãos. Os trovões se juntavam aos tiros e explosões, formando uma sinfonia um tanto macabra. Cruel!
Soldados e mais soldados que nem se lembravam mais como eram seus lares. Famílias que há muito haviam sido deixados pra trás. Soldados que rezavam todas as noites para que vivessem mais um dia, somente mais um dia e todos os outros possíveis.

Mas UM dia é muito na guerra.

Naquele dia eu vi amigos caírem, agonizarem, chorarem pedindo suas mães como bebês perdidos. Eu vi inimigos chorando, de joelhos implorando pela vida.

Mas na guerra, não há espaço para a misericórdia, nem o arrependimento.

Eu matei, confesso. Matei e na maioria das vezes eu gostei de matar. Mas não nesse dia. Nesse dia eu não queria estar lá; não queria matar ninguém, não queria ver amigos nem inimigos caírem.

Mas minha vida dependia do fim de outras vidas. Por isso matei. Por isso vivi.

Dentre todos os dias de guerra, esse dia é o que eu menos gosto de lembrar, mas é o dia que sempre me atormenta quando me deito pra dormir. E vai ser pra sempre assim.

Quem viveu um dia de guerra sabe como é.

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