segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Na Masmorra II

Para ler a primeira parte clique aqui

1439 d.C.

No século XV a Europa ardia. O fogo católico queimava homens, mulheres, crianças e velhos. Bruxaria, heresia, assassinatos de padres ou clérigos da Igreja. Eram todos crimes que levavam à fogueira. Homens pregavam o evangelho à força, enfiando Deus na cabeça das pessoas por bem ou por mal, e mostrando que negar Cristo era uma péssima idéia. O Medo era maior que qualquer rei da Terra, pois seu reinado abraçava toda a Europa, e uma parte da África e também da misteriosa e mística Ásia.
Era uma época negra, como todos já sabem. Os exércitos da Igreja e seus Juízes levavam a Santa Inquisição a todos os cantos desta terra. Julgando e condenando inocentes e culpados, todos ao mesmo destino. O Livro da Lei era fresco ainda, ensinando a reconhecer os hereges e as bruxas, ensinando a torturá-los e ensinando como executá-los. Malleus Maleficarum espalhando sangue sobre todos. A vontade de Deus estava nas palavras de todos os padres, como também nas espadas de todos os cavaleiros que serviam à Santa Igreja Católica.
Aço e fogo, opressão e terror. Manter-se vivo era uma tarefa difícil e diária, que alguns conseguiam cumprir, mas a maioria queimava no mesmo fim.

Morte.

Há dois dias os gritos tinham cessado, mas na sua cabeça era como se ainda estivessem no ar, ecoando nas paredes de pedra lisa. Ecos de terror.
Era apenas uma menina, inocente perante o Mundo, pecadora aos olhos de Deus. Agora, era apenas um monte de ossos escuros e torrados, deixados ao pé da pira que um dia foi uma grande e ardente fogueira de morte.
O homem estava a muito naquela masmorra e o único raio de sol que entrava por uma fresta na parede à esquerda da grade, era tudo que via do dia.
Já não ficava mais preso às correntes. Um dia entraram na sua cela e tiraram os grilhões. O guarda nada disse além de um “mexa-se e eu te mato, velho herege!” e saiu com as correntes. E ele não podia negar, era bem melhor assim.
Tinha fome, apesar de ter acabado de comer um pedaço de pão preto e bolorento e meia caneca de cerveja azeda de velha. Era tudo que recebia de refeição, se é que isso podia ser chamado de refeição. O estomago roncava e reclamava da fome, e a nuca doía por uma noite mal dormida, mas, quem dorme bem em uma cela numa masmorra escura, esperando pela própria morte?
Ele tinha o pensamento longe. E os malditos gritos da menina insistiam em ecoar nos seus ouvidos. Ela não merecia sofrer tanto. Mas pensar na garota não aliviaria a sua morte, então era melhor pensar na própria morte.
Estava absorto nesse conflito interno quando a tranca da porta da masmorra rangeu assim que a chave entrou no buraco. O ferro gritou e as dobradiças da grande e pesada porta de carvalho reclamaram ao serem usadas.  A porta se abriu por inteira.
O chão forrado de palha da masmorra chiou por causa dos passos que vinham em direção à cela do homem. Era noite, por isso a escuridão era total, o que explicava o archote aceso na mão do homem que entrava. Estava acompanhado de dois guardas que vinham atrás dele. A cela do cativo ficava no fim de um corredor cercado de outras celas, todas vazias, e os três homens se aproximavam rapidamente.
 Vieram me buscar. Minha fogueira já está preparada e eles vieram me buscar. Chegou a hora. Pensou o homem na cela, quando os três homens pararam na frente das grades.
- Tem nome, assassino? – Perguntou o homem que vinha à frente dos guardas, passando o archote pra um deles.
O cativo observou o homem. Botas pretas de viagem, sujas de barro e talvez sangue. Vestia uma calça de algodão preta muito surrada, um colete de lã também preto por cima de uma camisa de algodão preta, o frio obrigava-o a usar um manto de feltro preto e sujo.
Naqueles dias, existiam dois tipos de padres. Existiam os padres de igreja, que temiam abandonar a proteção das paredes de seus templos e igrejas, que preferiam o calor de uma lareira no inverno e a fartura de comida, por isso eram quase sempre os padres mais gordos. E haviam os padres destemidos, que enfrentavam batalhas e sabiam muito bem como usar uma espada. Eram os Padres Missionários, que viajavam por toda esta terra, espalhando a palavra de Deus e a vontade da Igreja. E o prisioneiro, no momento que viu o adorno branco no pescoço daquele homem, percebeu que aquele era um Padre Missionário treinado no Vaticano.
- Costumavam me chamar de Levi, padre.
O padre apoiou os dois braços na barra transversal da grade.
- Levi... Nome de um dos servos de Deus.
- Com certeza não sou servo nenhum de Deus. – O cativo deu uma fungada de escárnio.
O padre ignorou a ironia do prisioneiro. Virou para um dos guardas que estava com o molho de chaves e com um gesto, mandou que ele abrisse a cela. O guarda hesitou por um instante, mas após um olhar de insistência do Padre Missionário ele obedeceu. Levi estava sentado na parede oposta à grade e no momento que o guarda abriu o portão, ele apenas ergueu a cabeça pra observar o padre entrar.
- Se tentar alguma coisa eu abro sua garganta, verme! – Trovejou o guarda do archote, que tinha uma espada curta na cintura.
- Mataria mais rápido que o fogo, com certeza. – disse o padre sorrindo.  
O homem de Deus era um dos maiores padres que Levi já tinha visto. Ombros largos e braços fortes, um rosto marcado pela meia-idade e também por alguns cortes, provenientes de algumas batalhas, com certeza. E o padre sentou-se na parede à direita da grade, olhando nos olhos de Levi.
- Olhando nos seus olhos não consigo imaginar o que o levou a matar um padre... Ainda mais de uma forma tão cruel. Poderia me dizer o que o motivou a ser tão brutal, Levi?
O preso devolveu o olhar. Chegou a hora, vão me levar ao fogo.
- Matei um padre de uma forma vil e sanguinária, sim matei mesmo. Diga-me Padre Missionário, o senhor também tem um nome?
- Altair. – Disse o padre, remexendo na palha do chão. Pegou uma e enfiou na boca, como se estivesse mascando um pedaço de fumo qualquer.
- Padre Altair, missionário de Deus, diga-me, quando é que os padres começaram a estuprar e matar esposas de camponeses e a mutilar seus filhos, ao invés de pregar a palavra de Deus aos ímpios?
Levi tinha um pequeno tom de fúria na voz. Mas o padre estava calmo como um lago no verão.
- Nem todos os padres são assim. Mas, padres ainda são homens carnais, mesmo os servos de Deus. Estamos todos sujeitos aos desejos e crueldades da carne, Levi. E talvez o padre que violou sua mulher não fosse forte o suficiente para ser um homem de Deus.
- Violou e matou-a. E deixou meu filho com um braço a menos. – Levi encarava o padre nos olhos. Estava calmo novamente, a fúria e o ódio estavam restritos apenas ao seu olhar agora. – O maldito padre esperou que eu saísse para caçar. Arrombou a porta da minha casa, indo direto atrás da minha mulher. Meu pequeno filho, que viu apenas sete primaveras tentou defendê-la, mas o padre tinha uma pequena espada e decepou o braço do garoto. Assim, ficou livre e teve o tempo que quis pra fazer tudo que tinha que fazer com minha esposa e no fim, apenas por prazer, abriu a garganta dela, fazendo o sangue escorrer sobre meu filho. – Os punhos de Levi estavam cerrados e apenas uma lágrima escorria pela face esquerda. – Irei queimar na fogueira por vingar minha família, padre. Mas se eu não tivesse matado aquele desgraçado, ele não sofreria punição nenhuma.
Padre Altair cuspiu a palha, com uma grande quantidade de saliva. Pegou outra palha do chão, e começou a mordê-la por uma ponta.
- Ele teria a justiça divina, o julgamento de Deus. Deus é justo Levi. E este homem queimará na fogueira do Inferno, que é mil vezes mais ardente do que o fogo dos homens.
- Foda-se o Inferno, padre. Tive o sangue dele em minhas mãos, estou feliz por isso. Vi o terror nos olhos daquele padre gordo. O medo de morrer, o pavor da dor e ouvi seus gritos e súplicas. Pouco me importa onde ele está agora, o que me importa é a vingança e isso, ah isso eu consegui.
A ira de Levi aumentava, mas de uma forma contida. Os nós dos dedos estavam muito brancos, de tanta força que fazia pra cerrar os punhos. Suas unhas compridas cravavam-se nas palmas das mãos, e filetes de sangue escorriam delas. Sangue fresco sujava mais ainda suas mãos. Chegou a hora.
O padre olhou-o com olhos de piedade, porém tinha dureza na voz:
- Sua ira entristece a Deus. E sua crueldade faz o Espírito Santo chorar, Levi. Ainda há tempo para se arrepender diante do Pai. Sua morte é certa, mas seu destino pode ser alterado ainda. Arrependa-se dos seus atos passados. Eles não fizeram de você um homem melhor e nem nunca irão fazer. Jesus tem as mãos estendidas a você, estenda as suas a ele.
A expressão do prisioneiro era de puro escárnio e desprezo. Relaxou por um momento as mãos, só para limpar, com a palma da mão direita, um suor que escorria pela sua testa. Sangue e suor fundiram-se. Chegou a hora.
- Mãos de Jesus, a tristeza de Deus, o choro do Espírito Santo. Conversar sobre o nada, padre. São seres de vento. Um Deus que é tão invisível quanto o ar. Que fecha os olhos aos seus supostos filhos. Diga-me, Padre Altair, porque seu Deus de ar virou as costas à minha mulher e ao meu filho, quando eles mais precisaram dele? Onde estava o Santo Espírito? E as mãos de Jesus, porque não impediram que aquele maldito padre enfiasse ambas as espadas no corpo da minha esposa?
Um fio de saliva escorria da boca de Levi. Seu ódio se manifestava cada vez com mais força. E o Padre Missionário percebeu. Lançou um longo olhar pro teto da cela, suspirou uma vez e sem tirar os olhos do teto respondeu:
- Nós homens, pecadores desde o nascimento, nunca iremos entender a vontade de Deus. Mas acredite quando eu lhe digo Levi, você não pode vê-lo, mas ele vê você e ouve suas palavras. – O padre baixou os olhos para Levi. - Agora mesmo ele está aqui, posso sentir e ele deseja que você se arrependa dos seus pecados e atos da carne. E quando você morrer, Jesus te guiará ao caminho do Paraíso, pra se sentar ao lado do Pai. Arrependa-se. É isso que ele tem a te dizer. A salvação está à sua escolha. A minha boca fala pela boca de Deus Levi. Arrependa-se e viva eternamente no Paraíso de Deus.
O padre tinha olhos vivos em Levi. Os guardas esperavam pacientemente fora da cela, mas o archote começava a se apagar. Um vento gelado entrava pela porta da masmorra e o guarda que segurava o molho de chaves bocejou uma vez. Foi quando Levi percebeu que um fio de luz entrava pelo buraco da parede. Estava amanhecendo. E naquele momento Levi soube que seria o ultimo amanhecer que veria. Chegou a hora.
- Eu cago na vontade de Deus, Padre Missionário Altair. – Ódio, o mais puro e legítimo ódio dominava o coração de Levi. O padre se remexeu, desgostoso com o insulto.  – Ou será que a vontade dele seja que eu levante agora e arranque seus dois olhos de padre fora do seu crânio? Poderia queimá-los comigo no fogo da Igreja. O que acha dessa vontade de Deus, padre?
A ultima palavra foi dita com o máximo de desprezo que Levi conseguia aplicar, seguida de uma cusparada na direção do padre. Sem força suficiente para acertar o alvo.
- Nega a Deus Levi? - Disse o homem de Deus.
- Com todas as minhas forças, porco da cruz!
O Padre Altair se levantou, com uma ligeira impaciência. Disse:
- Deus ofereceu o perdão. E você o ignorou e desrespeitou. Só lhe resta pedir piedade no Inferno. Guardas levem-no!
O padre pegou o archote quase apagado com o guarda, e o outro guardou o molho de chaves no cinto. Dois pares de braços fortes o pegaram e torceram os pulsos de Levi pra trás do seu corpo, levantando-o. Suas pernas estavam fracas e ele tinha perdido a pratica de andar, mas os guardas tinham mãos firmes que o obrigavam a acompanhar o ritmo deles. Iam em direção à porta da masmorra. O Padre Missionário vinha logo atrás, com passos decididos que estralava a palha. O vento frio penetrava no corpo fraco e sujo de Levi, cortando como adagas. A porta chegava rápido e o frio e a ansiedade aumentavam. O dia nascia na terra, nascia para que Levi morresse. A lembrança da sua mulher e de seu filho inundaram sua mente. As risadas nos verões e as flores na primavera. Flores. Levi não se lembrava do cheiro de nenhuma delas. E a porta estava próxima. Chegou a hora. Lembrou-se do rosto da pequena menina bruxa e as lágrimas que ela havia chorado dois dias antes, os gritos voltaram a ecoar e o cheiro de carne queimada voltou a visitar suas narinas, teve náuseas. Só percebeu que estava com os olhos fechados quando eles se abriram. E um clarão o cegou. Dias e dias sem nenhuma luz a não ser um filete de sol, pela brecha na parede. Assim que cruzou a porta um clarão queimou seus olhos, mas o sol ainda não havia subido do horizonte.
O ultimo amanhecer de Levi, não foi iluminado pelo sol, mas pelo fogo.
Chegou a hora.
E o dia amanheceu para Levi arder.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Campos

O papel branco estende-se a minha frente, ficando cada vez mais alvo, a cada olhar mais vazio, sem sentimentos, desafiando uma pessoa capaz de preenchê-lo. E um dia eu pensei ser capaz. Um dia cruzei oceanos e movi montanhas apenas com alguns rabiscos numa folha branca, como esta que me encara com olhos vazios, inexpressivos. Mas hoje não. Hoje os oceanos me barram. Hoje as montanhas têm o dobro do seu tamanho. E as minhas mãos não se movem em cima da mesa.
Já escrevi sobre sentimentos; amor, ódio, esperança e arrependimento. Já escrevi sobre fantasias, homens de honra, já criei deuses e rainhas. Mas hoje meus punhos estão cerrados em agonia.

No âmago é a revolta que cresce. E o medo de perder minha única esperança. Perder minha única e duvidosa qualidade. Medo de não conseguir construir o mundo dos sonhos, o meu mundo dos sonhos. Enterrado por toneladas de vazio. Isso mesmo, toneladas de nada. Amputando minha mente, congelando minha criatividade.
Nem o dia cinza, nem a chuva forte, nem o frio muito menos o calor...são fatores que não alteram um quadro grave, que, temo eu, seja irreversível.

Preciso parar.

Uma onda parece se levantar, para tragar tudo aquilo que eu desejei ser. 
E de todos os lados surgem as vozes.

Mil vozes.
Mil mentiras.

Só me resta saber se a sua voz é uma delas.
Pois a minha berra em desespero.
Mentindo para o meu coração.
Enganando a minha esperança.

Fugindo ao meu alcance as palavras correm e voam daqui.
Plainando sob as nuvens, buscando campos melhores que esse.
Buscando quem as dê mais valor.
Pois em minhas mãos elas não têm mais serventia. São coadjuvantes de uma mente perdida.
Vazia.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Pesar

A ópera demoníaca soa novamente nas paisagens ao redor.
Enquanto o mundo vai caindo aos pedaços por todos os lados.
E eu, vou tentando segurar as montanhas com as minhas próprias mãos. E por um breve momento eu achei ser capaz de aguentar o peso do caos.
Mas tudo é mais forte que eu.
O desespero ri na minha face marcada pela dor. Por tentar ser maior, tentar ser melhor, tentar ser o único.
Não suportando mais ter que assistir as esperanças ruirem, as lágrimas secarem e os sorrisos se esconderem em rostos endurecidos pelo medo.
Os mares se levantam em ódio, confrontando o céu cinzento, e o vento dança, graciosamente destruindo o que teima em ficar em pé.
Um espetáculo bem a frente dos meus olhos, ao alcance das minhas mãos, mas grande demais.
Tento resistir, jamais desistir.
Tento de alguma forma achar o conserto, no fim de tudo.
Mas as montanhas teimam em cair, despedaçando-se umas nas outras, pedras do tamanho de cidades abrindo o chão, rachando a terra.
E fogo por todo lado.

Um pássaro negro voou por perto e por um momento, eu posso jurar, que ele olhou para mim, com pena no olhar.
Sentindo dó de mim, e do meu esforço desumano em tentar manter as coisas do jeito que sempre foram.
E isso me cortou como faca em chamas. Pois a piedade caminha junto do desprezo.
E eu resolvi deixar...
Se meu esforço é em vão. Se minha vontade é insuficiente, se minha força não basta. Eu escolho deixar tudo.
E assim o fiz.
Recolhi minhas mãos. Ergui minha cabeça, olhei para o céu e ele me odiava naquele momento, todo cinza e raivoso, cuspindo raios para todos os lados e a chuva que caía cortava a pele.
Fechei meus olhos. Apenas ouvi por um momento aquela grandiosa cacofonia.
O som da morte, da destruição, do desespero e da agonia.

Mas para mim, o som da liberdade.

Com os olhos fechados eu pude imaginar tudo como deveria ser.
Cenas claras na minha mente, ilusões que gostariam de ser reais.
Pra mim, foi o melhor conserto que poderia ser feito.

E eu juro, juro que pude ouvir ao longe as montanhas chocando-se em água, fazendo tremer o mundo.
Mas ali, naquele momento, naquela fração de segundo, eu era inatingível.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Nêmesis

A lua subiu e nós nos encontramos novamente.
Dessa vez em definitivo.
Para sermos dois de novo. Pra que ninguém nos separe.
Desafiando as leis do paraíso.
Roubando as cores de um mundo cinza.

Desfilando nas passarelas disformes, enquanto o espanto toma conta da platéia.
Ignorando os falsos sorrisos.
Eu e você, mutilando o rosto da inocência.
Entregues ao pecado, manipulando a fé.
A minha Rainha dos Horrores, subjugando seu o trono.

E o mundo será perfeito.
Quando nada nascer e nada crescer.
Um espetáculo para poucos.
Banhados de sangue púrpura, rios de medo surgirão na terra.
Todos vão conhecer o amor verdadeiro. Não o amor das lendas e dos contos.
O amor sedento de sangue. O amor que dá a vida, mas que também mata.
E no nosso mundo bizarro os tolos irão rir, mas nós saberemos quais são as verdadeiras piadas.
Onde o belo de se ver, é trocado pelo mais puro para se sentir.
De padrões inversos.
Nós dois, de mãos dadas, corrompendo os princípios.


A lua me traz esperança,
de que a minha Rainha dos Horrores surja novamente,
a vingança divina, equilibrando o mundo.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Cinzas

O caminho coberto de folhas me levava a um destino que eu já conhecia.
Um lugar onde eu não queria voltar, nunca mais quis estar.
Mas mesmo assim meus passos me carregavam para mais perto.

Você teve a sua ultima chance, mas soprou-a ao vento.
E a lamina fria da dor cortou novamente.
Porém dessa vez era mais real.

A alguns metros de chegar, as lembranças metralharam meu coração.
E como uma barragem que se desfaz, o rio de emoções inundou minha mente.
É doloroso demais remexer esse passado.
Mas eu sou masoquista.

Tudo estava exatamente igual. Como se o tempo não tivesse se dado ao luxo de passar e transformar aquele lugar.
A vista era igual, os sons eram os mesmos. Até mesmo a brisa fresca do crepúsculo.
Apenas o lugar vazio ao meu lado era novidade naquele cenário.

No misto de emoções a solidão se torna cúmplice do ódio.
Queimando todo o resto de amor, que vai derretendo aos pedaços, dentro de um coração que um dia fora frágil.
É como queimar papel. Começando pelas bordas, o fogo vai se espalhando e consumindo tudo. E os pedaços carbonizados vão ao vento, até cair ao chão, desfazendo-se com um simples toque.

E dando adeus, com uma unica lágrima.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Feliz sem saber

Em alguns momentos me pego sentido saudades. Das mais variadas épocas, dos mais variados acontecimentos e dos mais ocultos sentimentos. Mas de algumas coisas eu sentirei saudades todos os dias da minha vida.

Saudades de comprar material escolar na papelaria perto de casa, querendo levar as marcas mais caras.
Saudades da ansiedade do primeiro dia de aula. Saudades da época em que a minha maior preocupação era estudar para a prova de matemática do dia seguinte. E da culpa que martelava minha consciência quando eu recebia a tal prova, sem ter estudado nada.
Sinto uma imensa saudade de ficar me arrumando antes de ir pra escola, tentando ficar mais bonito (difícil) pra que as meninas da minha sala gostassem de mim.
Saudades também de ficar horas esperando o download da musica da minha banda favorita. Depois gravar um cd com algumas musicas e ficar meses tocando o mesmo disco meses e meses no meu diskman.
Tenho saudades do cabelo comprido. De pensar ser o maior e melhor fã de rock do mundo. De idolatrar minhas bandas favoritas e de ter ciúme de que outros também gostassem delas. Saudades das aulas de educação física, mesmo que elas se resumisse a um jogo de basquete solitário num canto da quadra. Saudade de pegar a fila da cantina. De comprar uma bala a mais, só pra dar uma de presente pra menina dos meus sonhos.
Sinto saudades de chegar em casa, almoçar, assistir a um ou dois programas de t.v e dormir com um livro no colo. Das reuniões nas casas dos amigos pra fazer aquele trabalho impossível, que valia a nota do bimestre. E das discussões e briguinhas que as horas de trabalho proporcionavam. Tudo selado com um ou dois pedaços de bolo de chocolate. Sinto falta de matar aula e ir pra feira, ou pra lan house. E da preparação que matar aula exigia (levar uma camiseta na bolsa).
Saudade das paixões adolescentes. Gostar de uma garota e achar que conhece o “amor eterno”. De ficar passando na frente da sala de aula dela, só pra que ela me visse, e não desse a mínima pra mim. Saudade de ficar tirando a paciência dela, só pra ela falar comigo, mesmo que fosse pra gritar comigo (ou me bater). Saudades de não conseguir dormir, e ficar imaginando formas de puxar assunto com ela. Mas timidez sempre me vencia.
Saudade das excursões. Das viagens de ônibus. Da bagunça. E da diversão.
Da mochila cheia de refrigerante e comidas não saudáveis. E claro, sempre com a sacolinha de supermercado pro caso de um eventual ataque de vomito.

E dos risos despreocupados, sinto saudades mais que tudo.  

Saudades da época em que o meu maior sonho era ser adulto e responsável.
Ah, como eu sinto falta de ser feliz sem saber.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Interior

As nuvens acima se abriram, para me mostrar o céu azul.
Hoje, ao menos hoje, elas me dão esse prazer.
E na reflexão momentânea e introspectiva, eu me vejo através de espelhos quebrados do passado.
Cada caco refletindo um momento distinto. Bons, ruins, felizes e de agonia.
Os anos passaram rápido, quando eu mais queria que eles demorassem.
Até chegar a este exato momento.
E aqui, eu estou sozinho na sala escura dos meus pensamentos.

O que eu sinto não é o que eu vejo.
Depreciando sentimentos.
Sustentando opiniões.
Buscando e caçando um ideal pré-moldado.
Sendo eu, para outras pessoas.

Nem de todo ruim, mas a vida passa sem pedir permissão.
Os anos aumentam, o tempo diminui.

E dentre abraços falsos, apenas educados,
eu escolho quem realmente me acompanha.
Quem realmente eu necessito.
O que realmente me faz viver.

E eu descobri que os ventos de hoje, são os mesmos de vinte e dois anos atrás.
Apenas sopram em pessoas diferentes. Almas distintas.
Refrescando, ou gelando, corações e mentes.
Renovando espíritos.

Um lapso de momento, até as nuvens fecharem novamente o céu.
Paraíso incolor.
O dia seguinte.


terça-feira, 20 de setembro de 2011

Levítico

A boca cuspiu seu sangue uma ultima vez.
Onde os animais costumavam estar, hoje corre o desprezo e a infelicidade.
Os rios não foram barreiras suficientes para as ambições, muito menos a vida humana.
O respeito conquistado através do medo, impondo dúbias leis, é o respeito mentido, fingido.
O respeito que alimenta revoltas, rumores de revoluções.

Caos.

Faça-se a lei mesquinha, imposta por quem quer ser grande sozinho.
Conter a ânsia da liberdade. E assassinar de uma vez por todas a igualdade.
Sentar no trono do mundo. E não ter ninguém para lhe fazer companhia.

Do deserto às geleiras. Das dunas aos oceanos.
Todos obedecerão.
Pagando o pecado com a morte. Manchando com sangue o chão onde pisas.
Infeliz o ímpio, pois peca mesmo sabendo sua sina.

Ah, a incerteza rasgando meu coração com um cutelo afiado.
Expondo lágrimas de desilusão, de desejos perdidos.
Era pra tudo isso ser perfeito.
As montanhas parecem ter encolhido, e o fogo perdido seu calor.
Nem os meus maiores feitos, serão equivalente àquele unico feito que eu deixei de realizar.
Criei leis, acabei com vidas, cruzei terra e agua e sangrei a rocha, para que no fim, tudo isso fosse em vão.

Fundei civilizações. Destruí exércitos. Conquistei impérios,
mas não conquistei o seu amor.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Vanilla

Por bosques cinzentos eu passei. No dia em que o Sol foi ignorado pela Terra, ou o contrário, não importa.
Eu desejei que você ficasse comigo mais um momento. Um ultimo momento. Pro meu mundo sorrir na presença da aflição.
A névoa tomava conta do meu caminho, atrapalhando minha visão. O mundo era cinza e eu andava sozinho. De mãos vazias, e sorrisos perdidos, eu segui meu caminho.
Eu queria te ver mais uma vez. Sentir sua pele. E enxergar minha alma feliz dentro dos seus olhos. Mas onde estava você?
O dia cinza tinha virado noite e a lua escalava o céu. Eu podia enxergar a luz pálida por trás do véu de nuvens.
E eu apenas queria te ver. Mas onde estava você?

Eu olhei para o nosso jardim. As nossas flores, representando o nosso amor. Se renovando a cada estação.
O jardim morreu meu amor, assim que você se foi.
E então eu fui atrás de você. Mas onde você estava, quando as Orquídeas secaram?
Quando a Vanilla morreu. Perdendo seu perfume, sua cor. Enterrando a esperança.
Onde você estava, quando o desespero levou a minha sanidade?

Meu amor, onde você estava enquanto eu te procurava?
Buscando trazer o sol de volta ao meu dia.
Tentando desesperadamente rasgar o véu que me impede de ver novamente o brilho da lua.

Onde você está minha vida? O nosso jardim precisa de você.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Vingança Gelada

As nuvens negras chegaram. Trouxeram o frio. O medo. A morte.
O dia cinza escureceu ainda mais. Trovões soavam pelo céu.
O vento era cada vez mais forte, mais gelado, mais cortante. Era como o sopro da morte, fazendo ventar na alma, levando a felicidade. Tirando os sorrisos das bocas, e deixando o pavor no olhar.
Não era natural.
Não era normal.
Para os humanos a morte nunca é normal.

Naquele dia o Inverno gritou para todos ouvirem.
E todos temeram.
A fúria cinza varreu a Terra. E nem os cantos mais quentes do Mundo, escaparam dos dedos gelados do Frio.
E nem mesmo o Tempo foi capaz de controlar tamanha raiva. Ou talvez ele até fosse capaz, mas preferiu dar as costas e fechar os olhos a isso, como já havia feito antes.

Um deus sem misericórdia é a coisa mais terrível que pode existir.
E naquele dia não havia espaço para a misericórdia, naquele turbilhão de raiva, ódio e tristeza.
E um deus nunca se arrepende.
Morte, caos e terror.
O Inverno em busca da sua vingança. Desconhecendo pudores. Ignorando sentimentos inúteis. Na busca do responsável, não importa quem seja. Somente a morte paga a morte. Somente o sangue sela a vingança. E somente o sofrimento do próximo devolve o sorriso àquele que teve o coração partido.

E um dia aquela vingança seria nobre.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Da poeira

Lábios rachados pela poeira.
Terra do chão. Lama seca, onde meu rosto se acostumou a estar.

Não mais!

Não, não houve nenhum sinal. Nenhuma mão, nenhuma ajuda.
Não houve Deus, não houve paraíso, não houve salvação.
Milagre? Esqueça.

Houve o ser humano. Cansado da derrota. Cansado de prostrar-se.
Que ergueu os olhos. Que se levantou pelas suas próprias forças.
Recomeçando a caminhar, ainda com as pernas tremulas. Na verdade, reaprendendo a andar. Nascido de novo, da terra que um dia foi minha companhia.

Houve a chuva, trazendo a renovação. Lavando a dor. Levando embora o veneno que matava meu coração.
Minhas mãos se agarraram ao nada. O vento me sustentou.
E a confiança me ajuda a seguir. Seguir pra onde ninguém pode me acompanhar.

Depois de muitos anos, eu olhei para o leste, e o amanhecer me trouxe uma nova esperança.
Mesmo os dias mais difíceis, as madrugadas geladas, ou mesmo as lembranças mais cinzentas e dolorosas, não impedirão que um novo Eu seja feliz.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Salvo


E era eu, um cara sem sorte.
Sem sorte na vida
Sem sorte no amor, sem sorte no jogo.
Brincando de ser feliz.
Sonhando não viver a dor.
Era eu, imaginando o futuro
Os dias inexistentes.
Planejando aquilo que não se planeja.

Era eu, fingindo ser outro.
Era o melancólico
Tentando espalhar alegria.
Era falso.
Mentir dói, mas vicia.
Era eu, mentindo. Viciado na falta de alegria.

Era este eu que você sozinha salvou.

Eu, vivendo o impossível.
Superando qualquer plano.
O novo eu que nunca tinha existido.
O eu que sempre fingi ser.
Hoje, mais real que nunca.
O eu que você tocou no rosto.
E que no meio das lágrimas
Foi o cara mais feliz do mundo.

Só pra você saber que eu nem sempre fui assim.
Que o aquilo que antes era fingido
Hoje é genuíno.

Se hoje eu te olho nos olhos.
E sorrio para você.
Se hoje eu sou feliz sem mentir.
Sem medo de perder.
É porque hoje
Existe este eu somente por você.

O cara sem sorte, sem alegria, brincando com a dor.
Deixou de existir.
Pra se tornar
A pessoa que é feliz, por te ter, e por amar você.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Sopro do Tempo


O relâmpago rasga o céu, assim como o Tempo pisca na vida.
Não deixando segundas chances para aqueles que não viram seu brilho.
Os anos passam cada vez mais rápido. E o nosso tempo se esgota a cada minuto passado.
Infelizmente só nos damos conta quando ele passa.
Como o trovão que sucede o flash no céu negro.

Olhando para trás, eu vejo que o Tempo roubou a minha inocência. Transformou-a em culpa e me devolveu numa bandeja.

E eu aceitei.

Mas talvez não houvesse outra opção.
Ou talvez, a alternativa seja lutar, para transformar essa culpa em orgulho.
Orgulho que me libertará, que me trará a vitória, que me mostrará o passado, para servir de lição. Me lembrará da minha inocência perdida. Dos meus sonhos naqueles dias fáceis. E disso, ter a motivação para mudar.
Será um fogo, queimando os meus pecados. Deixando as cinzas ao vento, que de algum lugar virá soprar no meu coração.
O sopro do Tempo, me sussurrando que chegou a hora de viver.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Lágrimas dos Anjos


Os portões se abrem para mais um show de falsidade.
Onde homens ímpios tentam de todas as formas, te livrar do pecado.
Esquecendo dos pudores, dando as costas ao bom senso. Eles se escondem atrás de Deus, corrompem o coração humano, fingem santidade, esperando que suas próprias imagens não sejam afetadas.

Homens são homens. E santo nenhum deles é.

Os olhos dos anjos, zelam por nós.
São os anjos que choram as lágrimas venenosas.
Que muitos bebem sem se dar conta. Entregando sua vida àqueles que prometem ser a salvação. Eles juram te curar, te libertar, te entregar a paz.
Mas tudo tem seu preço.
Seja salvo, porém, siga-me.
Seja livre, porém, faça o que eu mandar.
Tenha paz, mas somente se me obedecer.

Ame a Deus. Mas sirva ao homem.

Os homens que juram ser santos.
Matando os não nascidos, condenando suas almas ao inferno.
Usando uma bíblia como escudo e seus fiéis como álibi.
Lavando da sua mente toda a noção de liberdade.

Mentindo.
Roubando.
Alienando.

Matar pra Deus, morrer por Ele.
A Religião me ensinou a ser um rato.
Correndo toda a vida atrás do queijo.
Fugindo para sempre do perverso gato.

Religião mata. Condena-te ao abismo.
As lágrimas peçonhentas, hoje são o seu alívio.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Olhos de fogo


Longe do meu lugar.
Aflito, saboreando as lembranças do meu lar.
Eu daria tudo para ter de volta.

Os dias em que corríamos o mais rápido possível;
Buscando alcançar as estrelas,
que nos faziam companhia naquelas noites,
em que tudo parecia ser mais simples.
A lua iluminava o seu rosto. E os seus olhos
reluziam como fogo.
Iluminando um ser que via em você,
todos os motivos de viver.

E nós víamos a felicidade nos nossos rostos,
e melhor ainda, vivíamos essa felicidade.
Demonstrada em palavras, comprovada em atitudes.

Eu era seu.
Você era minha.
Simples.
Perfeito.

Esperar que a vida nos ensinasse alguma coisa,
é o mesmo que acreditar nos contos mais fantasiosos.
Mas a vida realmente me ensinou algo:
A perfeição é plena enquanto ela existe.
Plena, porém não eterna.

Longe do meu lugar
Sozinho, sonhando com meu antigo lar.

Hoje a lua é vermelha.
As estrelas parecem morrer a cada noite.
As tardes são frias.
O seu rosto é uma mancha cinza na minha memória.
Dissolvendo-se a cada respiração.
E os seus olhos já não me iluminam mais.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Muros de medo/Janelas da paz


Dizem que o medo produz a coragem.
Mas o medo é a persistência do amedrontado. Se escondendo atrás de um muro, que esconde a incerteza do outro lado. Uma barreira que impede a vontade de vencer. Impede a visão da realidade.
Um empecilho no caminho que já era tortuoso.
Preferem ser derrotados em tranqüilidade, do que vencer na incerteza.
Usando quedas de outros como exemplo e a vitória de alguns como utopia. Um objetivo impossível de se alcançar.

Barrados pelo medo.
Desencorajados pela própria incapacidade
de enfrentar o que não é conhecido.

Talvez, este seja o processo mais doloroso.
Enfrentar o desconhecido.
Se encaixam em qualquer lacuna à margem
dos seus sonhos. Contentando-se com aquilo que é possível enxergar.
Estremecendo o coração, temendo perder a paz.

A paz existe, dizem que ela está lá fora.
O problema é que a porta está trancada.
E não existe chave para esta tranca.
A paz está lá fora, pela janela conseguimos vê-la.
Sempre muito perto, olhando-nos nos olhos.
Na realidade muito longe, de costa para todos.
Para todos...

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Horas Silenciosas


Não consegui dormir.
O sono não é capaz de me dominar.
Apesar do meu maior desejo ser um descanso
para minha mente
Mas esse descanso, eu não consigo ter.
E as minhas horas de silencio, são as mais perturbadoras.

A vida se monta na minha cabeça.
A minha vida, curta ainda, mas que já me apresenta a  um
passado em que, as vezes quero voltar
e muitas vezes quero mudar.
E os pedaços de mim se unem,
Me apresentando o futuro, na perspectiva do presente.

Uma tortura.

Nas horas silenciosas eu me torno pensativo.
O meu maior perigo...
Abusando da imperfeição, jogando o maléfico jogo
Da minha mente, onde meus próprios
Pensamentos buscam me tragar

Eu reagi para mudar. Tive medo da solidão.
Me entreguei. Um ato desesperado, carregado de culpa.
Fui engolido pela névoa espessa,
formada pelas minhas próprias desilusões.
Uma enorme nuvem, com rostos que me
lembravam que eu havia fracassado.
Sussurrando na quietude plena, num pequeno quarto
Em várias madrugadas.
Uma fumaça opressiva,
roubando a respiração da
Minha sanidade.

Os meus olhos, mesmo abertos,
pareciam não enxergar.
As estruturas que ruíram
e as ruínas que viraram pó.
Fragmentos; Lembranças; Sonhos; Promessas; Paixões;
Saudades; Tristezas; Alegrias; Ilusões; Frustrações...
E um único e verdadeiro Amor.

Nesta hora silenciosa,
o som do lápis no papel me faz pensar,
que eu começo a escrever, sem saber como terminar.
Imitando a vida.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Eu prometo


Mais uma vez rastejei.
Pedi ajuda, implorei por uma mão. Mas ao meu redor, elas se recolheram.
Pessoas que se cansaram, que desistiram de me socorrer. Que já não vêem mais retorno.

E a mim, só me restou encarar o impossível.

Sair, levantar, recomeçar. Os sentimentos me ensinaram a ser, mas eu ainda tenho que aprender a vencer.

Meus joelhos machucados são as vitimas de uma mente rendida, sem forças pra lutar.
Prometo nunca mais cair. Prometo nunca mais voltar.
Prometo vencer, e nunca mais ter medo de amar.

E a poeira deixará de fazer parte de mim. As sombras não vão mais me esconder.
E as cinzas daquela vida antiga, serão minha lembrança, pra que quando eu me esquecer de onde vim, elas possam me lembrar.

E o meu refugio será você.
Eu prometo.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Lembrança Fria

O Tempo parou.
E ali, eu me ajoelhei diante da fraqueza, esperando pelo momento que parecia demorar a chegar. Prostrado diante da grandeza que tudo aquilo significava.
Algo importante estava acontecendo, mas eu não tinha idéia do que poderia ser.
Senti arrepios, e a presença de alguém. Não era visível, mas se eu fechasse os olhos, quase podia ver que havia alguém ali, de frente comigo.
E como eu já disse, o Tempo parou, literalmente. 
O Vento parou, as folhas nas árvores pararam de farfalhar, o silêncio predominou. Por alguns instantes, esse foi o meu mundo. Apenas por uns instantes, os últimos instantes...
Porque enquanto tudo parecia congelar no Universo, aconteceu.
No exato momento em que abri os olhos, ele estava lá. Na minha frente, me encarando.
Sem nenhuma expressão. Olhos cinzas, que não guardavam nenhum tipo de emoção. Tinha cabelos negros longos, que caíam pouco além dos ombros, vestia negro, mas as vezes suas vestes cintilavam em pequenas luzes de prata. Como brilhos de estrelas no céu negro. 
Algo grande estava acontecendo...

Lentamente ele andou em minha direção. Mudo. Quando chegou à distância de um braço, ele estacou. Fechou os olhos, como se buscasse algo no fundo da mente. E de repente disse:
-Já é tempo, de o seu tempo se esgotar.
Eu não conseguia me mexer. Nada me segurava, eu apenas não conseguia processar nada daquilo.
Tentei dizer alguma coisa, mas eu simplesmente estava paralisado. Parecia que tudo aquilo, tinha que acontecer e ninguém poderia mudar isso.
Então, e isso é a ultima coisa que a lembrança me deixou, ele ergueu o braço, e tocou minha testa, entre os olhos.
Imediatamente eu senti que o Tempo voltava a correr normalmente, mas havia algo errado.
O Tempo voltava, mas eu ia perdendo minhas forças.
E a ultima coisa que senti em vida, foi frio. Muito frio. E isso me deixou feliz.
Pouco antes de eu morrer, me pareceu que o próprio Inverno tinha tocado meu rosto.

Algo grande, havia acontecido. E maior ainda, seriam as consequências daquilo.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Catatônico

O lugar que costumávamos ficar, hoje está vazio.
As tardes que nos acompanhavam todos os dias, agora são tardes melancólicas. Que imploram pela nossa volta, vivendo de lembranças, vivendo, mas vivendo sem perceber.
E por quê? Já me perguntei por que os dias passam cada vez mais rápido. Quando aquele um segundo a mais de vida, ao mesmo tempo, pode se tornar o ultimo segundo. 
O tal ciclo, que deve ser renovado sempre, nos impôs que devemos aceitar o que ele quiser fazer.
Mas eu resisto. Ou tento resistir.

As memórias me ajudam, e ao mesmo tempo me destroem. E eu fico, no meio de tudo, estático às emoções que me rondam.
Comecei a viver no modo automático. Catatônico.

Maldito o dia em que eu descobri que a vida existe para a morte. E que a Morte, na verdade, é o fator que enobrece a vida, que a valoriza, e que nos faz temer o dia em que ela nos buscará.
Maldito o dia em que eu comecei a esperar o tempo passar.
Reclamando da rotina, eu me recolhi do Mundo. Passei a viver no torpor, em que nada mais parece ter importância.
Tornei-me dependente de mim mesmo. Dependente do passado, buscando reviver alegrias.
E no meio de tudo isso, eu busco lembranças nossas, dos nossos sorrisos, das nossas lágrimas, dos nossos abraços, e da nossa felicidade, pois eu tinha você e você tinha a mim. E nós tínhamos a felicidade, os planos e os sonhos.

A Morte te levou, e ainda sorriu para mim.
E hoje sou estático ao mundo, pois não tenho mais você.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

O Dono das Horas

Tempo. Tudo se resume à falta, ou desperdício de Tempo.
Nada é obra do acaso, mas o acaso é uma obra do Tempo.

Ele implorou por mais Tempo.
Sim, implorou por mais Tempo de vida, implorou por mais Tempo de amor, por mais Tempo de afeto, implorou até mesmo por mais Tempo de finais de semana.
Mas o Tempo é o mesmo para todos, implorar não o fará amolecer.
Justiça, seu maior critério, seu único compromisso.

Ele não soube usar o que lhe foi dado. Não soube aproveitar. Só pensou que o fim não chegaria tão cedo... Tão antes do Tempo certo.
O erro: o SEU Tempo NÃO é o certo. O seu Tempo é o que ELE determinar.

Os últimos minutos foram os mais rápidos. Parecia que era mais uma crueldade do Senhor das Horas.
Então, a voz dela se fez ouvir. Sussurrando, chamando-o, e mesmo caído, ele virou a cabeça, e ela estava ali. A Morte o encarou com lindos olhos cor de mel. Era uma menina, de não mais que quatorze anos. Uma linda menina, que levaria sua alma.
Aos prantos e espantado, ele ergueu a mão direita, pegou a Morte pelo pulso e disse:
- Você é linda!
A Morte, que para cada pessoa aparece de uma forma diferente, respondeu:
- Sou apenas a melhor visão para o seu último suspiro, agora descanse.
Ele rapidamente retrucou:
- Por favor, me dê outra chance, eu tenho muito a viver ainda. Muito tempo! Você, com esse lindo rosto, no fundo deve ser misericordiosa, bondosa, me dê mais tempo de vida, eu suplico.
A Morte olhou no fundo dos olhos dele. Cuidadosamente, livrou seu pulso da mão do homem e tocou a fronte dele com certo carinho.
- Humano você teve a vida para aprender que o Tempo te oferece aquilo que você merece. Ele te ofereceu a vida, e te deu um pedaço dele próprio, para desfrutá-la. Você aproveitou essa chance? Você viveu como se fosse o último instante? Você amou como se não houvesse amanhã? Você teve todos esses anos para perceber que todos nós vivemos em função do Tempo. Todos nós dependemos do que ELE nos dá. Até mesmo eu, a Morte, que dizem, sou soberana, tive que esperar o Tempo certo para vir buscá-lo.
Hoje eu estou aqui, como serva do Senhor das Horas, para te buscar.
Ele estava ás lágrimas. Tentou negociar com a própria Morte, mas nada conseguiu. Ela o fez ver o quanto ele desperdiçou a vida, o quanto ele menosprezou o Tempo que lhe foi oferecido. Sentiu raiva de si mesmo, e sentiu vontade de gritar, mas não tinha forças. Sentiu vontade de dizer para todas as pessoas que ele conhecia, para que elas vivam cada momento intensamente, mas já não lhe restavam muitas respirações. Ele, no seu leito de morte, se arrependeu de não ter enxergado isso a tempo. Nada poderia mudar aquilo.
Desta vez, ele olhou profundamente nos olhos da criança, nos olhos da Morte:
- Vai doer? Eu vou sofrer muito agora?
A menina de olhos de mel sorriu graciosamente. Pegou a cabeça do homem, encostou-a no seu peito, acariciou os cabelos castanhos dele e disse:
- Você teve a vida inteira para sofrer. Agora eu prometo te levar em paz.
Ele sorriu com lágrimas nos olhos. Suas últimas palavras foram:
- Você não é tão cruel assim.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Mãos solitárias

Já não me importa mais o Inverno. Já não me importa mais a ausência de cor. Já não me importa mais os olhares perdidos.
As minhas mãos agora andam sozinhas, desde que você se foi. Elas sentem falta do seu toque, do seu calor, do seu amor.
Eu sinto sua falta.

Abandonado no nada. Caminhando na vastidão da solidão.
A neve não é a melhor companheira, como você era. Ela castiga de dia, e me lembra que eu estou sozinho a noite.
As noites frias...

Quando a memória resolve me jogar lembranças, esfregando-as nos meus olhos. Lembranças turvas, porém carregadas sentimentos vivos, liderados pela mão fria e cruel da saudade. Que me atormenta, e que tira meu sono.
E que me faz ver como você é importante. O quanto sua presença me alegra, e, agora, a cada segundo de tristeza, me mostra o quanto eu preciso de você.

O dia precisa do sol. O Inverno precisa do frio. O deserto precisa de um oásis. O lobo precisa da lua.
E eu, meu amor, preciso de você.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Rubis

Por um caminho longo e escuro, segui você.
Você sabia o porque. A resposta estava em você. No seu medo. E eu te segui. Te persegui.
Tola.

Seus olhos vermelhos me hipnotizaram, já na primeira vez que os vi.
Duas gotas de sangue no meio de uma graciosa face. Eu te amei.
Cabelos negros como a noite de lua nova, contrastavam com a pele que parecia reluzir à luz das estrelas.
Quando te vi, percebi que você tinha que ser minha.

Mas você fugiu de mim.
Nunca mais fuja de mim, minha vida.

Você fugiu, mas eu sabia onde te encontrar.
Você correu, mas todas as vezes que você olhava para trás, me via a te perseguir.
Eu não te desejei mal em momento nenhum, mas você, minha vida, decidiu me deixar, quando eu poderia ter te dado o Mundo.

Entenda, eu tive que te perseguir, eu tive que ir atrás dos meus olhos de rubis. Eu não poderia deixar de te-los.
Mas você não me entendeu, quando eu disse que te amava. Você se assustou, quando soube o que eu gostava de ser nas horas escuras. Nas horas que só há trevas na Terra. Nas horas que todos dormem, e eu saia para acorda-los. E ouvi-los gritar. É pura diversão, é pura necessidade, é a vontade de vê-los agonizar.

Não, você não deveria ter fugido. E eu não suporto a ideia de você me temer, porque isso a torna igual aos outros. Presas fáceis, que se aterrorizam quando me vêem. Você, minha doce e linda vida, com seus olhos escarlates, se tornou uma preciosa presa.
Seu sangue me banhará essa noite, minha vida, pois você não deveria ter fugido de mim.  

terça-feira, 28 de junho de 2011

Divisão

A vida mais cruel.
Dúvidas.
Que impedem decisões, passos que devem rumar para a direita, ou esquerda.
A mente fica gasta.
Os desejos se tornam secundários. Os sonhos estão distantes, além, muito além do horizonte visível. Fora, completamente fora do alcance das mãos dos que ainda ousam sonhar.
Das minhas mãos...

Planos marcados pela incerteza.
E pessoas que julgam saberem o certo sobre você.
Pois EU sei o que sou. EU sei o que posso ser.
Onde posso chegar, o que posso conquistar.
EU sei o quão grande posso ser.

É só a incerteza que me impede.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Resquícios

Vida sem Tempo. Sem calor, nem emoção.
Transforma a alma em cinzas.
O Vento espalha a poeria no ar. Formando padrões que parecem sofrer.
Sentimento não tem mais significado. Como um barco no meio da lagoa. Abandonado, apodrecendo.
Esvaindo no nada.
Regado pelas lágrimas.

O sol que escureceu, assumindo o seu lado vermelho.
A razão desconhecida, pelos lamentos noturnos.
O lugar ao lado que está vazio. Necessitando de amor, no momento, implorando por afeto.
As mãos se tornaram lembranças. Os olhos um refúgio. Onde olhar lembra como a felicidade é. Deveria ser. Tinha que ser. Mas dela não há nada.

As palavras não saem quando todos querem ouvi-las.
Um tolo que implora por Tempo. Que espera a oportunidade, só para deixa-la escapar.
Ao longe as vozes são alegres. Mas ao redor elas são desprovidas de vida.
São apenas vozes sem nome, chamando para casa, aquele que não pode voltar.
Perde-se o controle sobre a sanidade. Perde-se a noção do real.
Controle, é tudo uma questão de controle. E das coisas que realmente controlam o Ser.

Não tenho nada a oferecer, não espero nada receber.
As cinzas me olham tristemente.
A música me envolve em remorso. Por quê?
A razão é desconhecida, ainda sem resposta.
Dias de erros. Noites, apenas noites.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Dança das Estações

Uma dança eterna com os astros.
Uma harmonia que nasceu alegre.
Para iluminar os corações sofridos.
Para trazer esperança ao desesperado.
Aroma de rosas vermelhas, num dia chuvoso.

Trouxe a ilusão aos que queriam vida.
O medo, quando se procurava paz.
A preocupação, quando a luz era suplicada.
O mau presságio, aos que queriam sorte.
As nuvens, acompanhadas da tempestade.

Trouxe a calma, depois do caos.
O calor, quando o frio parecia ser eterno.
A felicidade, aos que morriam no desespero.
O amor, aos corações cinzentos.
Cores, quando tudo parecia negro.

Congelou a vida, de um modo único.
Beleza gelada, de cores escuras.
Azul no preto, cinza no branco.
A seriedade da razão, congelando a emoção.
Preparou-nos para o Ciclo da Vida.

A Dança regida pelo Mestre Supremo.
Justo, único, eterno.
O Mestre da Dança das Estações.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Escarlate

O relógio que não anda mais. As manhãs que não me mostram mais o Sol.
Nas nuvens, eu vi rostos que pareciam rir do meu sofrimento.
"Você ainda é uma criança", o Vento me soprou.
No horizonte os prédios pareciam dançar ao som da cidade. Mas eu não ouvia a sua musica.
Eu só conseguia ouvir a canção que as lamúrias gritavam.

No fechar dos olhos, eu vislumbrei o que parecia ser o futuro. Incerto.
As pessoas eram águas, que se debatiam em pedras negras, com chifres de bode.
As águas choravam, e inexplicavelmente, eu conseguia ver suas lágrimas. Vermelhas como o sangue.
Os choros aumentavam cada vez mais, se aproximando de mim por todos os lados.
Demorei para perceber que eu era uma das pedras.
Negras como o nada. Vazias de vida como o lado negro da lua. Chifres retorcidos no alto das cabeças.
Eu era uma delas.
Tragava as águas, e cada vez elas ficavam mais vermelhas.
As lágrimas me rodeavam. Manchando o negro de escarlate.
As pedras negras roubavam a vida. As águas morriam. E eu chorei pelos rostos conhecidos.

Abri os olhos. O relógio ainda parado.
Ao longe as árvores começaram a se agitar. O Vento se aproximava novamente. Soprou as folhas, as flores, as páginas, e soprou a mim: "Lágrimas, criança. O Mundo se resume às lágrimas."
E na minha mão direita, o relógio voltou a andar.   

terça-feira, 14 de junho de 2011

Oca

Talvez um dia uma revista estampe seu sorriso na capa,
mas eu saberei a arrogância que ele esconde.
Talvez um dia você alcance o auge,
mas eu saberei em quem você pisou.
Talvez um dia todos amem você,
mas eu saberei o quanto você os desprezou antes.
Talvez um dia você tenha os melhores amores,
mas eu saberei a razão, e o porque, que eles te abandonarão.

Porque você atrai a solidão. O Tempo a trará.
Junto com a única certeza possível na vida. Já sabemos qual.
Nada mais será, além de um poço de presunção.

E eu te pergunto:
Quando estiver velha, solitária, deformada, vazia, triste e mal humorada, quem irá te aconchegar?
O seu sorriso, naquela velha e despedaçada revista?

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Seco e sedento

Totalmente sem inspiração.
Sem inspiração para criar, para imaginar, para detalhar...
para viver.

Tornou-se monótono, aquilo que um dia foi novidade a cada página que se virava.
Tornou-se apenas o esperado. O conhecido.
Onde apenas nos prostramos ao Tempo. Esperamos que ele passe. Que ele leve o que tem que levar e, talvez, deixe resquícios de lembranças, que deveriam ser esquecidas.

Tentando desvencilhar as memórias dos sentimentos.
As Ilusões que se formaram na mente que agoniza por sonhos.
É agora, a desculpa para se viver.
Nos dias de hoje, eu sei que poderia ter sido melhor.
Você sabe.
Fantasiou aqueles momentos, mas agiu conforme o esperado.
Faltou coragem, imaginação, vontade...
Inspiração.

Buscando em músicas, livros, sons e emoções.
Nada!
Impera o vazio. E a certeza de ser apenas normal.
Frustra até os ossos. Saber que o diferencial, é apenas igual ao de todos.
Que contradição mais mal-vinda...

Um deserto na mente. Um deserto privado de oásis.
Pelo menos sem nenhum, no momento que mais é preciso.
Onde a criação morre de sede, avistando alucinações.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Esquerda, a escolha

Esqueça-se do Céu.
Você não está sozinho.
Eu e você, contra o Mundo!
Olhe para mim. E deixe-me ter o controle da sua mente. Da sua alma.
Não siga o caminho que pode te levar ao nada. Não acredite nas mentiras, não seja mais um gado.
Eu estou aqui para te salvar da salvação.
O Destino depende de uma escolha. A sua!

Portanto, escolha uma mão.
Direita, a Mão de Deus.
A direita te oferece o Paraíso. Ou o que se supõe como isso.
Um caminho difícil, estreito, íngreme, pedregoso, com espinhos. Que no fim, te recompensa com a vida eterna.
Uma promessa.
Esquerda, a mão dos Impuros.
A esquerda te oferece tudo. E depois o Inferno. É isso que está escrito.
Um caminho fácil, de prazeres, amores, que permite que você desfrute do Viver. No melhor significado disso.
E oferece o melhor daquilo que você tem certeza: Esta Vida.
Pois nenhuma outra vida é certeza para você.

Direita,
ou Esquerda?

sábado, 4 de junho de 2011

Madrugada Acordada

Alguns versos lhe passaram pela mente:

Estar, sem querer estar. 
Sentimento mais cruel do Humano. 
Inseparável do Ser. 
Até a noite chegar.


Seguiu-se assim:

Esteja comigo e seja o que a vontade lhe falar. 
Mas que seja com sinceridade, 
pois nada mais maldoso do que ser sem desejar. 
Apenas engana.


Não havia sentido algum. Apenas vieram-lhe aos pensamentos:


O cão que olha o pássaro e pede para voar.


Algo, alguém, ou ambos, haveria de explicar-lhe. Se repetiu:


O copo que ela enche até derramar. 
O vinho que lhe rouba a sensatez. 
A arma a gritar e gritar... 
Cinco vezes, o grito que põe silêncio.


Começou a compreender. Mais palavras chegavam:


O silêncio, sorrateiro como sempre, lhe roubou a vida. 
Amarga, sem o Amor. 
Expirou, para não inspirar nunca mais.




A mente de um escritor.
Na madrugada acordada.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Três/Um

Ele tentou desvendar o valor daquela amizade.
Falhou ao tentar.
Tentou encontrar as explicações que todos dão. Os clichês que todos usam. Aquela frase que cativa o coração do Homem. Mas parecia pouco, perto do que era a realidade.
Se viu como um pedante, tentando explicar o que apenas era pra existir.
Entretanto algumas coisas são predestinadas. Apenas TÊM de acontecer. Mesmo que só se consiga perceber quando tudo acontece.

Talvez os anos não o tenham ajudado a perceber algo, que em apenas alguns minutos, lhe abriu os olhos.
O fez quebrar as barreiras.
Mostrou que os ciclos realmente se renovam. E talvez o mais importante de tudo: amadurecem juntos.
Compartilhando emoções, experiências, histórias e contos.
Enfim, as lembranças tornaram-se apenas lembranças. Sementes de uma árvore que talvez gere frutos, ou talvez embeleze uma paisagem que parecia condenada ao esquecimento.
Mas que estará de pé sempre, formando uma união.



Depois de tanto pensar e falhar, a única coisa que ele pôde ter certeza sobre aquela amizade,
é que ela não é restrita apenas aos livros e lendas de heróis.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Multidão

Siga a Multidão. Não importa pra onde ela te leve, não importa que atitudes ela vai exigir de você.
Apenas vá com a maioria. Seja mais um. Não faça a mínima diferença.
É isso que eles querem de você.
Que você não se esforce.
Que você não se revolte.
Que você não seja criativo.
Que você não questione.

Ah sim, a Multidão tem pavor aos questionamentos que se passam na sua mente.
Porque as respostas são as piores possíveis: são as verdades que você procura.
E a Verdade é a unica coisa que a Multidão teme mais que as Questões.
Ela teme que você descubra o propósito.
Teme que você descubra que vive preso à falsos mandamentos.
Teme que você descubra que as tais escrituras são apenas textos humanos. Escritos e criados por mentes completamente humanas. Pecadoras. Impuras.
Teme que você descubra que apenas
Você é o seu próprio deus.

A Multidão te quer.
Aceite-a ou morra.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Palavras da Saudade

Sabe aquelas infinitas horas que ficamos sem nos ver ?
Quando ficamos contando-as, esperando o tempo exato para que elas se tornem o nosso momento?
Nos falamos por vários meios de comunicação, mas nunca pessoalmente. Nunca olho no olho. Nunca você nos meus braços e nem eu nos seus.
É...
Nessas horas que você ocupa todo o espaço da minha mente reservado à Saudade.
Nessas horas eu sinto sua falta.
Nessas horas eu imagino o momento que vamos estar juntos.
Nessas horas eu venho aqui, escrever sobre você. Para você. Tentando em vão amenizar aquilo que é impossível de ser amenizado sem você ao meu lado. Tentando lembrar de como eu sou feliz quando estou de mãos dadas com você.
Perdendo a linha.
Perdendo a vontade.
Idealizando você.
Só pra você saber, que esse sou eu, meu amor.
O eu que você não vê. O eu que você não escuta. O eu que você não toca.
O eu que por algum motivo está longe de você.
O eu que pertence à Saudade.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Na Masmorra

Ele acordou com o choro dela.
- Por que choras menina?
Ela estava agachada no chão da cela, encoberta de palha, encolhida e tremendo, provavelmente de frio.
- Me acusam de algo que não fiz. - ela disse
 Ele olhou suas próprias mãos sujas de sangue. Disse:
- Sei como se sente. Mas do que a acusam?
Ela pareceu desconfortável com a pergunta.
- Ora menina, que mal faria em me responder? Seria presa? Olhe sua situação...
Ela se virou pra ele. Era uma linda menina. Não mais que dezesseis anos, olhos cor de mel. Tinha o rosto marcado de tanto apanhar, de tanto ser torturada. De tanto ser obrigada a assumir algo que não era.
- Me acusam de bruxa.
O homem não ficou espantado.
- E você é bruxa?
Os olhos de mel ficaram furiosos.
- De maneira nenhuma! É uma acusação falsa, sem fundamento. Não sou uma bruxa! - estava à beira das lágrimas novamente.
- Não a acusariam por nada. - o homem estava implacável.
A menina se endireitou, encheu a mão de palha, e começou a solta-las ao chão novamente. Uma atitude sem pensar. Disse:
- No meu caso sim. Não fiz nada além confidenciar sonhos à pessoa errada. Mas eram somente sonhos, eu juro! Sonhos que, aposto, qualquer pessoa poderia te-los.
O homem sentiu dó da pequena garota. Ele sabia o que lhe era reservado, ela também...

Fogo.

Ela o olhou novamente, com um olhar curioso como somente as crianças sabem fazer
- E o senhor, o que fez para estar aqui nas masmorras, preso por correntes de elos tão grandes?
O homem olhou as correntes. Não tinha reparado no tamanhos dos elos. De repente elas ficaram pesadas como o céu.
- Acusado de assassino.
- E o senhor é assassino? - a garota foi rápida.
- De um modo ou de outro, sou.
- E quem o senhor assassinou? - ela também sabia ser implacável e direta, como um tapa de costa da mão.
Ele olhou pela fresta e viu a lua. Prata sobre prata, perfeita circunferência. Linda.
- Um padre. - ele disse sem remorso.
A garota ficou espantada. Olhou de um outro modo ao homem. Com uma pitada de medo e curiosidade.
- Por que matar um servo de Deus?
Uma ira se ascendeu nos olhos do homem maltrapilho.
- Porque ele merecia a morte. Dolorosa, demorada e muito sofrida. Sim, ele merecia, minha criança. Abri-lhe o estômago e deixei suas tripas escorrerem pra fora. Tirei-lhe as bolas e dei-as aos porcos. E os dedos, tirei um por um, e fiz um colar.
A crueldade do assassinato chocou a menina criança. Ela só conseguiu dizer:
- O senhor é que deveria ser acusado de bruxaria.
Ela foi para o canto mais distante da cela, longe do homem. Agachou-se e se pôs a jogar palha ao acaso.
O homem gostou de ter chocado a garota. Gostava da lembrança do crime. Parecia sentir o gosto do sangue do padre novamente. Por fim se encostou na parede novamente, adormeceu.

Mais tarde ele foi acordado por gritos. Gritos da menina. Porém não vinha da cela, vinham de fora. Ela gritava ser inocente. Que era uma injustiça. Que Deus os faria pagar. Um padre esbravejava, Eu sou Deus aqui criança-bruxa. Sou a voz dEle e Sua mão. Arrependa-se da bruxaria e Ele talvez lhe salve a alma. Porém o corpo não tem salvação.
O homem olhou pela fresta. O dia ainda não havia raiado, mas havia uma intensa claridade. Fogo.
Eles arrastaram-na até a pira. O fogo ardia até na cela, fazendo o maltrapilho ser aquecido. Decidiu que não queria ver o resto. Sabia muito bem o que ia acontecer.
O homem ouviu os gritos da menina, abafados pelo barulho que o fogo faz quando queima. Os gritos. Cortaram-lhe a alma. Uma menina morrendo, em nome do homem que dizia ser a voz de Deus. Em nome da Igreja, que dizia ser a verdade de Deus. Em nome da mentira!
O homem resolveu ser surdo aos gritos. Ele sabia o que lhe esperava. Sabia que logo a sua pira estaria ardendo, esperando para consumir seu corpo.
Pois essa é a condenação aos desertores assassinos como ele.

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Martelo das Bruxas

Seja feita a vossa vontade.

No abismo negro da alma
ecoam as vozes roucas.
As vozes que crescem, enfim
sem tolerância, nem pudor.
As terras estão com sangue
Espalhe-se o terror.

E as ordem não descansam
Escreva o horror
As terras estão com sangue
Espalhe-se o terror.

Hereges irão morrer,
ensine a torturar
Arranquem todas as almas
Sacrifiquem os pecadores

Sem misericórdia, sem arrependimento.

Ensine a torturar.
Malleus Maleficarum.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

O Título é Seu

As horas que faltam para te ver parecem ter o triplo de minutos.
Talvez seja porque uma unica hora sem te ver, já me faça sentir saudades.
Saudades que, dizem os mais velhos, virará monotonia. Que enjoarei. Não vou mais querer...
Acontece que eu vivo o Agora. E Agora Eu Te Amo. Quando o Depois chegar será o Agora novamente, eu Te Amarei mais. É assim, renova. Cresce. Pra sempre.
Aumenta a cada batida do meu coração. Que parece dizer o seu nome.
Sim, me sussurra o teu nome, pra que eu jamais esqueça seu rosto. Como se isso fosse necessário...como se um dia eu fosse me esquecer do rosto que me salva todas as noites, quando sonho com você.

É, com você!
Descobri que nas noites que não sonho com você, elas me acordam para um dia triste. Frio, mesmo no verão. Sem motivo nenhum.

Eu espero os minutos que se multiplicam, me fazendo desesperado e impaciente. Espero eles passarem, pra te encontrar novamente e mais uma vez dizer que Te Amo. De um modo que, talvez, eu nunca entenda. De um modo que era predestinado a acontecer.

Eu Amo Você.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Menti

Eu ouvi o que eu tinha acabado de dizer.
E minhas palavras soaram falsas para mim. Eu sentia exatamente o contrário.
Talvez eu quisesse estar noutro lugar. Qualquer lugar, menos aqui. Há tempos que quero, há tempos que desejo.
Estar no frio. No cinza. Onde o vento fala. Toca meu rosto...

Mas eu estava lá. Frente a frente com o que eu queria que estivesse longe.
Inexplicável.
Não era sonho, nem delírio, nenhuma alucinação causada por diversos fatores possíveis.
Eu sentia saudades de momentos que nunca vivi.
Eu sentia a neve, sem nunca te-la visto.
Eu sentia angústia. Essa eu sei bem como é sentir. Companheira da vida. De mãos dadas com a minha solidão.

Eu fui falso. Eu menti.
Odiei mentir, mas naquele momento eu amei esconder a verdade. Ela é dura, cruel e não perdoa.
Eu fechei meus olhos, forcei uma lágrima. Falsa.

Me ajoelhei, Te dei um anel.
E disse que Te amava. Menti!

domingo, 15 de maio de 2011

Hiena

Espera o anoitecer pra atacar. Ou pra ficar com o que sobra.
As gargalhadas acompanhadas de urros e berros de disputa. 
A guerra pra sobreviver. 
A guerra pra te ver morrer.

Os olhos na presa. Ou o que sobrou dela.
A inteligência usada pra derrubar o próximo. A lei da selva, dizem.
Não acredite nas suas palavras. Não acredite nas suas gargalhadas. Ela não está se divertindo. Ela está te destruindo.
A traição usada na forma de disfarce. Um capuz imundo de ódio, capaz de derrubar o mais forte entre os fortes.
Um ser que busca a sua falha. Tira proveito dos seus erros. Espera que seja dada as costas. 

Um ataque silencioso, mas eficaz.

Aquela mordida na jugular. O sangue que explode pra fora. A presa abatida.
Agonizando; implorando; morrendo.


É a alma. É o instinto. É o ser humano.

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Pai

Agora que eu estou aqui sozinho, sentado e lendo um livro qualquer, com a caneca cheia de café, o dia frio parece me inspirar e me encorajar pra dizer coisas que eu não tenho coragem de dizer quando devo.
A pergunta é: Por quê?
Por quê eu não consigo te dar um abraço?
Por quê eu permito que exista uma barreira que me impede de ser amigo e companheiro, quando te vejo juntando os cacos da sua vida?
Por quê não consigo mostrar o quanto admiro sua coragem, sua força, sua perseverança? Por quê no momento que você mais precisa, eu apenas consigo ser indiferente? Como se tudo estivesse bem, como se a dor não estivesse presente, martelando um coração já sofrido. Como se nada estivesse rompido.
Eu me envergonho de só ter coragem de ser sincero no papel. Escrevendo algo que minha boca não consegue pronunciar.
Sinto, e na verdade eu sei, que devo isso a você.
Eu te Amo!