sexta-feira, 17 de junho de 2011

Escarlate

O relógio que não anda mais. As manhãs que não me mostram mais o Sol.
Nas nuvens, eu vi rostos que pareciam rir do meu sofrimento.
"Você ainda é uma criança", o Vento me soprou.
No horizonte os prédios pareciam dançar ao som da cidade. Mas eu não ouvia a sua musica.
Eu só conseguia ouvir a canção que as lamúrias gritavam.

No fechar dos olhos, eu vislumbrei o que parecia ser o futuro. Incerto.
As pessoas eram águas, que se debatiam em pedras negras, com chifres de bode.
As águas choravam, e inexplicavelmente, eu conseguia ver suas lágrimas. Vermelhas como o sangue.
Os choros aumentavam cada vez mais, se aproximando de mim por todos os lados.
Demorei para perceber que eu era uma das pedras.
Negras como o nada. Vazias de vida como o lado negro da lua. Chifres retorcidos no alto das cabeças.
Eu era uma delas.
Tragava as águas, e cada vez elas ficavam mais vermelhas.
As lágrimas me rodeavam. Manchando o negro de escarlate.
As pedras negras roubavam a vida. As águas morriam. E eu chorei pelos rostos conhecidos.

Abri os olhos. O relógio ainda parado.
Ao longe as árvores começaram a se agitar. O Vento se aproximava novamente. Soprou as folhas, as flores, as páginas, e soprou a mim: "Lágrimas, criança. O Mundo se resume às lágrimas."
E na minha mão direita, o relógio voltou a andar.   

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