terça-feira, 25 de outubro de 2011

Pesar

A ópera demoníaca soa novamente nas paisagens ao redor.
Enquanto o mundo vai caindo aos pedaços por todos os lados.
E eu, vou tentando segurar as montanhas com as minhas próprias mãos. E por um breve momento eu achei ser capaz de aguentar o peso do caos.
Mas tudo é mais forte que eu.
O desespero ri na minha face marcada pela dor. Por tentar ser maior, tentar ser melhor, tentar ser o único.
Não suportando mais ter que assistir as esperanças ruirem, as lágrimas secarem e os sorrisos se esconderem em rostos endurecidos pelo medo.
Os mares se levantam em ódio, confrontando o céu cinzento, e o vento dança, graciosamente destruindo o que teima em ficar em pé.
Um espetáculo bem a frente dos meus olhos, ao alcance das minhas mãos, mas grande demais.
Tento resistir, jamais desistir.
Tento de alguma forma achar o conserto, no fim de tudo.
Mas as montanhas teimam em cair, despedaçando-se umas nas outras, pedras do tamanho de cidades abrindo o chão, rachando a terra.
E fogo por todo lado.

Um pássaro negro voou por perto e por um momento, eu posso jurar, que ele olhou para mim, com pena no olhar.
Sentindo dó de mim, e do meu esforço desumano em tentar manter as coisas do jeito que sempre foram.
E isso me cortou como faca em chamas. Pois a piedade caminha junto do desprezo.
E eu resolvi deixar...
Se meu esforço é em vão. Se minha vontade é insuficiente, se minha força não basta. Eu escolho deixar tudo.
E assim o fiz.
Recolhi minhas mãos. Ergui minha cabeça, olhei para o céu e ele me odiava naquele momento, todo cinza e raivoso, cuspindo raios para todos os lados e a chuva que caía cortava a pele.
Fechei meus olhos. Apenas ouvi por um momento aquela grandiosa cacofonia.
O som da morte, da destruição, do desespero e da agonia.

Mas para mim, o som da liberdade.

Com os olhos fechados eu pude imaginar tudo como deveria ser.
Cenas claras na minha mente, ilusões que gostariam de ser reais.
Pra mim, foi o melhor conserto que poderia ser feito.

E eu juro, juro que pude ouvir ao longe as montanhas chocando-se em água, fazendo tremer o mundo.
Mas ali, naquele momento, naquela fração de segundo, eu era inatingível.

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